Por
Sônia Almeida

A Grande Goiânia vai receber, ainda este ano, seis grandes empreendimentos imobiliários, a maioria voltada para a classe média com preços a partir de R$ 150 mil, que vão movimentar a economia com mais de R$ 3 bilhões. Essa é a notícia boa. Por outro lado, os projetos podem gerar impactos na cidade, em função do adensamento populacional em poucas áreas (veja reportagem ao lado). Serão mais de 20 mil novas unidades habitacionais, entre apartamentos e casas, que abrigarão cerca de 80 mil moradores.

Os empreendimentos vão ocupar os vazios urbanos do Parque Oeste Industrial, Goiânia 2, antiga Fazenda Gameleira, Goiânia Golf Clube, Jardim Cerrado e também bairro Monserrat, em Aparecida de Goiânia. A previsão dos analistas de mercado é que a economia brasileira cresça em torno de 3% este ano. Porém, a expectativa dos empresários do mercado imobiliário é que o setor tenha aumento de 10% no número de empreendimentos e de vendas, assegurado pelo crédito imobiliário, sobretudo do programa Minha Casa, Minha Vida.

Nova cidade

Uma nova cidade, embora dentro de Goiânia, será erguida no Parque Oeste Industrial, na saída para Rio Verde. Numa área de 200 mil metros quadrados serão construídas 6 mil unidades verticais distribuídas em 50 torres com 17 pavimentos cada. O Eldorado Parque será quase duas vezes maior que o Residencial Eldorado.

O Eldorado Parque terá parque público, áreas comerciais, vias de acesso e infraestrutura, garante o empresário Marcelo Moreira, diretor comercial da CMO Construtora, um dos empreendedores ao lado da Dinâmica Engenharia, Engel Construtora e Tropical Empreendimentos.

Os empreendedores vão investir R$ 1 bilhão no projeto, que será lançado em abril próximo. As primeiras unidades habitacionais serão entregues em 24 meses e terão 2 e 3 dormitórios, alguns com suítes. O preço será de, no máximo, R$ 150 mil a unidade, que garante o financiamento através do programa Minha Casa, Minha Vida, com pagamento em até 360 meses e prestações abaixo de R$ 300,00, a preços de hoje.

A estimativa de Marcelo Moreira é que 24 mil pessoas residirão no Eldorado Parque. Ele conta que foi realizada uma pesquisa quantitativa e qualitativa com os moradores da região Oeste de Goiânia. 92% dos entrevistados manifestaram interesse em adquirir um imóvel na própria região. A pesquisa constatou, também, que ninguém da região se lembra do fato ocorrido na área, em fevereiro de 2005, quando os invasores foram retirados, por decisão judicial.

Aparecida de Goiânia também vai contar com um bairro planejado, dentro do conceito de condomínio fechado, o Parque do Cerrado, no bairro Monserrat, com infraestrutura, inclusive um parque público, que pretende mudar o perfil da região. Serão 4 mil apartamentos de 2 e 3 quartos, distribuídos em 54 torres com uma média de 10 pavimentos cada.

Por trás desse empreendimento, que vai demandar investimentos de R$ 600 milhões, estão as construtoras GLP, EBM, Terral e Tropical Empreendimentos. “Nosso projeto vai ocupar os vazios urbanos e induzir o desenvolvimento da região”, disse o diretor da GLP, Guilherme Lopes Pinheiro.

O empreendimento, a ser lançado em junho, deverá ter as primeiras unidades entregues em 2014. Guilherme Pinheiro antecipa que todos os edifícios serão construídos ao redor de um parque e de fontes de água. Os apartamentos terão de 50 a 110 metros quadrados, com 2 e 3 quartos. Os preços vão variar entre R$ 120 mil a R$ 300 mil. O bairro terá, também, uma área comercial, com um minishopping, pista de caminhada, áreas para exercícios, palco para shows ao ar livre e mata nativa.

Maior

Numa área de 5 mil metros quadrados, na saída para Trindade, está sendo construído o bairro planejado Jardins do Cerrado, com 10 mil unidades habitacionais, entre casas, sobrados e apartamentos. A estimativa é que, até 2016, 40 mil pessoas vão morar no condomínio, construído pela Brookfield Incorporações.

Segundo o superintendente da empresa para o segmento econômico, Paulo Henrique Simões, até o momento já foram entregues 2.340 unidades e as outras 7.600 estarão concluídas até 2016. “Esse é o maior empreendimento imobiliário do programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida dentro do conceito de autossuficiência”, garante. A estimativa é que o projeto envolva recursos da ordem de R$ 600 milhões. O bairro terá quadras comerciais, desenvolvidas dentro do conceito strip mall, um modelo comercial muito comum nos Estados Unidos.

O Goiânia 2, bairro criado pela antiga Encol, na saída para Nerópolis, também foi redescoberto pelas construtoras Brooksfield, MCA e Masb, com a urbanização a cargo da Tropical Empreendimentos. Apenas este ano, serão lançados mais 3 grandes empreendimentos na região, com seis torres, oferecendo ao mercado mais 500 unidades habitacionais, de 70 a 110 metros quadrados. A previsão é que o valor dos apartamentos saiam entre R$ 150 mil a R$ 300 mil.

A Mauá – Empresa Brasileira de Participações Societárias Estruturadas - ligada à Toctao Construtora -, adquiriu há dois anos, através de leilão público da antiga Encol, a Fazenda Gameleira, situada entre os Condomínios Alphaville e Portal do Sol. A área possui 1,64 milhão de metros quadrados, onde poderão ser construídas 7 mil unidades habitacionais no estilo vertical. A empresa não confirma quantos imóveis serão erguidos na área, sob a alegação de que os projetos encontram-se em fase de estudos.

Condomínio

Este ano, ainda, R$ 20 milhões serão investidos pela Tropical Empreendimentos, a Leonardo Rizzo e a Masb para garantir as obras de infraestrutura para o relançamento da 2ª etapa do condomínio Portal do Sol Green, na saída para Bela Vista. Serão mais 200 lotes, de no mínimo 500 metros quadrados, ao custo de cerca de R$ 450,00 o metro quadrado, que estarão localizados ao redor do campo de golf, do Goiânia Golf Clube.

De acordo com o diretor de empreendimentos da Tropical, Antônio Carlos da Costa, o condomínio terá espaços para construção de casas e prédios, voltados para a população de maior poder aquisitivo. Também terá uma área de 20 mil metros quadrados, para a construção de um hotel, além de uma mata.

Segundo o presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-GO), Ilézio Inácio Ferreira, existe uma tendência de bairros planejados em todas as grandes cidades. Neles, o empreendedor cria ambientes para se morar, efetuar negócios e desfrutar de lazer, sem que as pessoas tenham de se deslocar em grandes distâncias.

“Estamos todos enfrentando problemas de mobilidade por causa do trânsito sempre congestionando. Por isso é que a indústria da construção está criando empreendimentos mistos (residencial e comercial)”, diz Ilézio.

Ele garante que esses empreendimentos planejados, onde vão residir e transitar milhares de pessoas, estão surgindo com novas estruturas, para não causar mais problemas à cidade e aos poderes públicos. Segundo o presidente da Ademi-GO, Ilézio os novos bairros planejados serão acompanhados de estrutura viária para dar vazão ao trânsito, contarão com energia elétrica, redes de água e esgoto e até acordo prévio com as empresas de transporte urbano para garantir linhas de ônibus.

Especialistas criticam falta de estudos de impacto no trânsito
Cleomar Almeida

A expansão acelerada de condomínios residenciais em Goiânia e Aparecida deve sufocar ainda mais a mobilidade nas duas cidades, sobretudo por serem construídos sem um prévio estudo de impacto de trânsito. Essa avaliação é dos especialistas na área ouvidos ontem pelo POPULAR.

“A Agência Municipal de Trânsito (AMT) precisa ser ouvida, principalmente antes da construção de grandes empreendimentos, mas isso não está sendo feito”, salienta Miguel Tiago, presidente do órgão.

Ele reconhece que os novos condomínios aumentam substancialmente o fluxo de veículos nas regiões nas quais são instalados. “Sem dúvida nenhuma o trânsito ficará bem mais sobrecarregado”, afirma.

Coordenador da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) no Centro-Oeste, Antenor Pinheiro avalia como positivo o crescimento habitacional das cidades, mas crítica a falta de planejamento. “A cidade está se verticalizando, isso é importante, mas a regra é infringida”, frisa.

Ele analisa que o adensamento de condomínios na capital e região metropolitana segue sem a devida estruturação de corredores de transporte coletivo previstos no plano diretor. “Está tudo de cabeça para baixo nessa expansão irresponsável”, critica. “O interesse do setor imobiliário está se sobrepondo ao da mobilidade”, lamenta.

O prefeito Paulo Garcia rebateu as críticas e disse que “a Secretaria Municipal de Planejamento não aprova nada fora do plano diretor”. “Esses empreendimentos têm projetos antigos e muitos nem foram autorizados na minha gestão”, explicou.

O que mais preocupa o presidente da AMT são os empreendimentos na região da antiga Fazenda Gameleira. “O local é saturado e já tem outros conglomerados habitacionais e comerciais.”

Para ele, a trincheira em construção que vai ligar um trecho da BR-060 com a Avenida Consolação deve melhorar o acesso aos prédios no Setor Parque Oeste Industrial. No caso do Setor Goiânia 2, ele diz que uma saída é desafogar a Avenida Perimetral Norte e optar pela Avenida Pedro Paulo, no Setor Crimeia Leste.

Pinheiro entende que as medidas não serão suficientes para evitar congestionamentos. “Facilitam o acesso aos condomínios, em vez de melhorar o transporte público”, pondera.
 

Área foi palco do maior conflito por terra em Goiânia
Alfredo Mergulhão

Um dos principais lançamentos imobiliários desse ano será no local que foi palco do maior conflito por terra já acontecido em Goiânia. Serão erguidas 50 torres de edifícios residenciais no Parque Oeste Industrial, na mesma área onde cerca de 3 mil famílias foram retiradas à força pela Polícia Militar (PM) em fevereiro de 2005. No mês passado, a remoção dos moradores da comunidade de Pinheirinho, em São José dos Campos, no interior de São Paulo, trouxe novamente à memória dos goianienses esse episódio, que andava esquecido.

O empreendimentos será construído pelo consórcio de empresas composto pela Brasil Brokers Tropical Imóveis, Construtora Moreira Ortence, Engel Engenharia e Dinâmica Engenharia. O grupo é o mesmo que ergueu o Residencial Eldorado, também na Região Oeste da capital.

Os empresários adquiriram o terreno da antiga proprietária, a dona de casa Anália Severina Ferreira e seus três filhos, Antônio Severino de Aguiar, Dalva Severina de Aguiar e Neuza Severina de Aguiar. O valor do negócio não foi divulgado, mas a avaliação de mercado feita nas vésperas do conflito era de R$ 38 milhões. Na época do despejo dos ocupantes, os donos da área tinham uma dívida estimada em R$ 2 milhões em impostos.

O diretor da Brasil Brokers, Paulo Roberto da Costa, adiantou ao POPULAR que o projeto está praticamente aprovado pela Secretaria Municipal de Planejamento (Seplam) e deve ser lançado até abril. Paulo Roberto da Costa também afirmou que foram iniciadas conversas com a Prefeitura para a construção de um parque na área, junto à nascente do Córrego Água Doce, que fica ao lado do Parque Oeste Industrial. Tanto a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) quanto a Secretaria de Planejamento do Município (Seplam) acenaram positivamente para a proposta. Na Avenida Pedro Ludovico, que dá origem à BR-060, ainda será construído um centro comercial para atender a região.

Conflito

A área onde será erguido o empreendimento foi palco de violento conflito. Duas pessoas morreram e dezenas ficaram feridas na desocupação da área, que era subutilizada. Até hoje, ainda existem cerca de 1,7 mil lotes baldios na região, conforme dados da Seplam. Batizada de Sonho Real, a invasão foi erguida num terreno que originalmente era um sítio comprado pelo marido de Anália, Sebastião Júlio de Aguiar.

Ele morreu em um acidente de avião em 30 de outubro de 1981, em plena campanha eleitoral, quando era candidato a deputado federal pelo PMDB. Pioneiro de Goiânia, empresário, dono das Casas Aguiar, na Rua 4, no Centro, Sebastião era amigo do então candidato a governador pelo PMDB, Iris Rezende Machado.

A ocupação durou dez meses, até o cumprimento da ordem judicial de reintegração de posse que completa sete anos na semana que vem. Havia uma negociação em andamento para que os moradores do local pagassem pelo terreno, mas a alternativa foi ignorada.

O despejo aconteceu à base de balas, gás de pimenta, bombas de efeito moral e cães como pit bulls, dobermans e pastores alemães. Duas pessoas morreram e dezenas ficaram feridas. “Olha, ficou escuro que parecia noite depois da chegada da polícia”, lembra José Renato de souza, de 63 anos. “Estou vivo pela misericórdia de Deus. Não passo mais por lá, meu coração aperta só de lembrar.”

Depois da desocupação, José Renato e as outras 10 mil pessoas despejadas passaram a viver amontoados nos ginásios de esportes do Bairro Capuava e do Setor Novo Horizonte. Eles ainda moraram num acampamento no Setor Grajaú, antes de serem realocados no Real Conquista. Levou mais de quatro anos e inúmeras promessas para que eles fossem levados às novas casas.

Se antes eles não tinham acesso à moradia, agora eles não têm acesso ao restante da cidade. O bairro fica a 14 quilômetros de distância do Parque Oeste Industrial, não possui posto de saúde nem escola de ensino médio. Lá não tem parques, cinema, teatro nem opção cultural alguma. “Tráfico tem bastante”, revela um comerciante.

Fonte: O Popular 5.2.2012 



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